Nestes últimos tempos a Câmara de Aveiro tem vindo a dar passinhos no âmbito da cultura. Desde a biblioteca edifício ATLAS até à biblioteca itinerante, incluindo o Festival dos Canais, não passamos do Suficiente.
Por Sara Tavares *
Comecemos pela biblioteca edifício ATLAS, salas de trabalho no andar das crianças, que bem pensado, um salão vazio para possíveis apresentações de livros, as pessoas ficarão em pé, talvez. O último andar com mesas bem desenhadas e cadeiras confortáveis, mas com um calor ambiente que não se aguenta trabalhar lá dez minutos.
Não seria melhor, para a cidade que ambiciona apostar na cultura de tal forma que consiga tornar-se Capital Europeia da Cultura em 2027, idealizar um edifício de raiz?
A biblioteca itinerante, por outro lado, tem o objetivo de fazer chegar a cultura a vários lugares das freguesias. Boa iniciativa, pensei eu, mas logo percebi que é mais uma medida para inglês ver. A carrinha terá duas funções: biblioteca e gabinete de atendimento ao Munícipe. O Munícipe que se quiser dirigir a este atendimento terá de procurar no itinerário da biblioteca o lugar que mais lhe convier e misturar-se com crianças e idosos que lá estarão a requisitar livros ou a aceder à internet.
Quando questionei na assembleia municipal se haveria projetos de interação com as bibliotecas das Juntas e das escolas, a resposta foi afirmativa. O que é certo é que, por exemplo a Biblioteca da Freguesia de Santa Joana sofreu um corte no espaço significativo, no espaço e nos livros, não estão nenhuns expostos, só as estantes vazias num canto da sala. E assim se pensa a cultura em Aveiro…. Suficiente.
Festival dos Canais: pouca informação para quem queria ver os espetáculos, os bilhetes só se podiam levantar uns dias antes e nesse dia ao meio dia já não havia bilhetes.
Estariam então os espetáculos esgotados, quem se aproximava para ver o que se passava, poderia constatar que existiam muitas cadeiras vazias. Houve muita gente que levantou bilhetes e depois nem foi ver, nem deu a quem quisesse ver. A lamentar esse tipo de açambarcar de bilhetes sem lhes dar uso. O festival perdeu por isso.
A paupérrima informação do site não esclarecia que os espetáculos poderiam não estar efetivamente cheios e que poderia haver a possibilidade de, se esperássemos um pouco, ocuparmos os lugares vazios de quem usurpou bilhete e não apareceu. Poucos espetáculos, da qualidade e da escolha apenas posso afirmar que a cultura não deveria ter como objetivo as massas e o número de pessoas que a eles assistem, mas ser avaliado noutros patamares, ou seja, a nível de qualidade cultural. É uma pena que este festival tenha quase passado despercebido. Nota final: Suficiente.
Já o Festival da (in) Certeza não passou incógnito, desta vez a empresa gestora e programadora do Teatro Aveirense teve o bom senso de convidar agentes culturais da nossa cidade para a sua organização. Ora esses agentes contratados são pessoas da cultura de Aveiro, conhecedores da massa criativa da nossa cidade.
O local é excelente no que a visibilidade diz respeito. Deu-se oportunidade a alguns artistas aveirenses de mostrar a sua obra. Mudou-se a forma do levantamento de bilhetes, só no dia do concerto poderiam ser levantados e isso minorou significativamente os lugares vazios. Passo bom dado em prol da ajuda aos nossos músicos e profissionais do espetáculo.
Ainda assim, ficaram artistas de fora deste projeto, como se percebe, não obstante espero que, como refere o plano preparatório Aveiro Capital da Cultura não faltarão oportunidades para mostrarem a sua criatividade e talento. Vamos ver se passam a apostar na cultura em Aveiro como merece. A concretização deste plano anda em “slow motion”, pelo que me apercebo. Aguardo a passagem de Suficiente a Bom.
* Professora, eleita do PS na Assembleia Municipal de Aveiro. ([email protected]).