Muito se fala sobre as falhas do Serviço Nacional de Saúde (SNS), especialmente a respeito da falta de obstetras, enfermeiros e outros profissionais de saúde. Sem dúvida, essa carência é um problema sério e merece atenção urgente. No entanto, há uma crise menos visível que afeta a vida de milhares de portugueses, muitas vezes com impactos profundos na sua qualidade de vida e finanças: o acesso a cuidados de Oftalmologia e Odontologia.
Por José Teles *
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Embora ambas as especialidades existam nos hospitais públicos, o tempo de espera é, frequentemente, indefinido. Marcar uma consulta pode ser uma missão quase impossível, com tempos de espera que se arrastam por meses, ou até anos. Para quem tem urgências, a solução é recorrer ao setor privado, algo que está fora do alcance de grande parte da população, em particular para aqueles que vivem com o salário mínimo.
Saúde visual e saúde oral são aspectos essenciais da qualidade de vida, mas têm sido sistematicamente negligenciados no SNS. A odontologia, em particular, é tratada quase como um luxo, quando deveria ser vista como parte integrante dos cuidados de saúde primários. Uma boa saúde oral previne uma série de complicações, desde infecções até doenças cardiovasculares. No entanto, para muitos portugueses, ter uma boca saudável e funcional é um privilégio inacessível.
Na oftalmologia, a situação não é muito diferente. Problemas de visão, quando não tratados a tempo, podem agravar-se e comprometer de forma irreversível a qualidade de vida de um indivíduo. A perda de visão não é algo que possa ser resolvido com um remédio de última hora; exige acompanhamento contínuo e intervenções regulares. Novamente, o cidadão comum, que vive com dificuldades financeiras, é empurrado para longas listas de espera, ou para soluções particulares que custam caro.
Na minha modesta opinião, a solução passaria por fortalecer a presença dessas especialidades nos centros de saúde. Se cada centro de saúde pudesse contar com pelo menos dois oftalmologistas e dois dentistas, não faltaria trabalho para estes profissionais, e certamente haveria uma diminuição drástica nas listas de espera. Essa distribuição mais equitativa dos serviços de saúde é essencial para garantir que os cuidados primários sejam verdadeiramente acessíveis a todos, independentemente da sua condição económica.
É impossível para alguém com um salário mínimo garantir uma boa saúde oral ou visual recorrendo ao setor privado. A saúde não pode ser um privilégio apenas dos mais abastados. Se o SNS é realmente um serviço “nacional”, deve ser capaz de oferecer cuidados de saúde em todas as suas vertentes, não apenas nas mais visíveis. Chegou a hora de colocar oftalmologia e odontologia no centro do debate sobre o futuro da saúde pública em Portugal. Afinal, cuidar da saúde dos nossos olhos e dentes é, sem dúvida, cuidar da nossa vida como um todo.
* Aposentado, ex-militar.
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