A cínica habilidade do Estado

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Imagem de arquivo.
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Hoje, tem-se a muito sentida e nefasta experiência de que a desgraça herdada pela “geringonça” foi sendo prosseguida e ampliada pelos membros do Regimento de Infantaria Governamental

Por Brasilino Godinho *

O Presidente da República no início da noite do dia primeiro do ano 2022, da actual era cristã, fez discurso à Nação. Mais do mesmo que é presidencial marca exibida diariamente em cenários mediáticos e profusamente ilustrada de fotos mais ou menos coloridas. Sua Excelência desenvolveu toda uma fantasiosa teoria sobre o que, na sua perspectiva, deverá ocorrer nos próximos quatro anos em termos de exercício da governação.

Mas a Nação, passadas horas, mantem-se apática e o seu silêncio é assaz significativo e demasiado ensurdecedor – o que afecta os delicados tímpanos e qualificados neurónios de muitos cidadãos portugueses dotados de activas faculdades de alma, que cultivam valores e princípios de prevenção e resguardo contra a promiscuidade vigente no circo político e que são incompatíveis com a desvergonha, a hipocrisia, o cinismo, a desumanidade e corrupção existentes por tudo que é espaço nacional.

Em contraposição, os partidos, imediatamente, vieram à praça pública manifestar agrado uns, tímidas e superficiais reservas, outros. De uma forma ou de outra mais ou menos delirante e conivente com o sistema da Partidocracia de que são partes emblemáticas e beneficiadas à mesa do ORÇAMENTO, na qual colhem substancial alimentação que os alenta e fortalece.

Face ao quadro descrito e apoiado no direito de expressar o meu pensamento, por sinal e natural vocação, isento e objectivo, decidi apresentar à nação dos oprimidos portugueses e à outra que lhe é sobranceira, localizada no maldito pântano descrito pelo famoso António Oliveira Guterres, uma proclamação para, através dela, dar-lhes ensejo de conhecer um tipo de análise da degradação geral que persiste a todos os níveis da sociedade portuguesa.

Uma proclamação decorrente da minha serena e objectiva análise, repetidamente formulada em letra de forma e publicada em vários espaços, mas que é sistematicamente, negligentemente, irresponsavelmente, descurada nas instâncias oficiais e impedida de inclusão nos jornais, revistas, rádios e televisões de Lisboa, Porto e Coimbra.

Também, em registo singular, chamar-lhes a atenção para a gravíssima situação sociopolítica radicada em Portugal e alertar os portugueses de que está programado o seu tenebroso agravamento nos quatro anos que se vão suceder.

Embora esteja ciente de que a proclamação não terá a projecção mediática semelhante à que teve o espectáculo da intervenção presidencial de natureza marcelina, efectuado com pompa no Palácio de Belém.

Passo a expor minha análise em formato de oportuno elogio…

A prosseguida desgovernação de Portugal que tanto tem afligido a maioria empobrecida dos portugueses tem agora oportunidade e premência de ser apreciada em fim de estação operativa do “Regimento de Infantaria Governamental”; o qual, como se sabe, tem um efectivo operacional de 70 membros (um comandante-chefe e oficiais de alta e média patentes) e um indeterminado número exagerado de sargentos, cabos, subalternos vários de reputada fidelidade ao clã socialista e constância à mesa do ORÇAMENTO, assessores, jovens recém-libertos da dependente/frágil condição de menino da mamã, quais arvorados especialistas de suposta 1.ª classe, ajudantes, escriturários, motoristas, telefonistas, contínuos, vigilantes, polícias privativos, agentes de limpezas e praticantes de imprecisas ocupações, secretárias, privativas damas de companhia, e as chamadas “namoradas” e “namorados” – afinal, uma unidade militarizada colorida a tom rosa e representativa deste tempo de Partidocracia sui generis…

Uma apreciação do que tem sido o desgoverno do País que reveste carácter importante não só pelas consequências previsíveis da antevista festejada desgovernação processada durante a legislatura que se segue; mas, também, por que anda por aí, iludida e perdida, muita gente distraída com o Natal; os espectáculos de: passagem de ano; futebol; música pimba; fado castiço; circo político na Assembleia dos repúblicos disfarçados de políticos; novelas, concursos e jogos das televisões; de exagerada, absurda, crença nos votos de feliz ano novo; sem se dar conta da real e muito dramática situação de decadência e miséria prevalecente e em crescendo na nação portuguesa.

Sem entrar em pormenores basta-me considerar o pungente drama que está delineado pelo governo, resultante dos miseráveis aumentos de vencimentos e pensões de muitos milhares de portugueses. Tais programados quantitativos de ínfimos valores monetários e a dias de serem acrescentados às muito pequenas remunerações existentes, já repercutem na elevação do actual custo de vida; o qual, de per se insuportável por que afectado pelo estádio misérrimo e de empobrecimento contínuo que atinge, pelo menos, dois milhões de portugueses.

Daí, que encaro com indignação e repulsa as referências aos aumentos de vencimentos e de pensões decretados pelo Governo, que se repetem nalguns órgãos da Comunicação Social e que visam publicitá-los como medidas que beneficiam o povo.

Por isso, torna-se inadiável obrigação cívica de, imediatamente, denunciar com vigor e determinação tal abominável coisa e os inerentes, maléficos, efeitos. Tão abusivo expediente de pretensioso elogio, subserviente para com o Governo, corresponde a tentativa de branquear matéria suja e insuportável em sede de regular governação. É subverter de jeito primário, grosseiro e despudorado, a realidade concernente ao alcance da anunciada medida do Governo. Ele (alcance) fundamenta-se na mentira. Constitui-se uma indecorosa e muito desonesta falsidade.

A partir deste mês, milhões de cidadãos vão sentir e sofrer as gravosas consequências dos aumentos dos produtos, dos serviços e, mesmo dos impostos directos e indirectos.

Tenha-se consciência e bem presente a triste e bastante penosa verdade: vamos todos ter um calvário de perda de poder de compra e as dificuldades – até agora dificilmente suportadas – mais agravadas e intensas; com grave risco de sobrevivência para muitos indivíduos de avançada idade. Isto acontecerá por todos ficarmos muitíssimo pior do que estamos actulmente (o articulista Brasilino Godinho se inclui no respectivo rol).

E reportando a tamanho calamitoso quadro até vale a pena citar como significativo o facto de uma minha conhecida pessoa – enquadrada no pequeno núcleo da classe média que vai subsistindo com amargura e sofrimentos vários – que, ano após ano, foi tendo a remuneração da aposentadoria diminuindo e que, a partir de agora, ficará fixada num valor residual, até mesmo inferior à quantia de € 735 atribuída ao salário mínimo nacional; visto que o imposto IRS também aumenta.

No caso em apreço é expressa a cínica habilidade do Estado: por um lado concede escandalosos, míseros, aumentos de vencimentos e pensões, num pretenso alarde de benefício social; por outro lado, aumenta impostos IRS, IVA e indirectos como taxas sobre práticas de benefícios sociais, cuidados médicos e medicamentos, etc, em conjugação com a redução de benefícios e regalias nos domínios da Segurança Social, ADSE e do Serviço Nacional de Saúde.

Relativamente ao disfarçado aumento do IRS para vigorar em 2022 assinalo que o Governo usou o ardiloso expediente de lhe alterar os escalões e assim providenciar no sentido de mais facilmente confundir/iludir os contribuintes, fazendo-lhes crer que, em vez de aumento da carga fiscal, haverá diminuição – o que traduz um inqualificável e desonesto procedimento.

Mais: com sobranceria, desprezo e alheamento dos padecimentos de inúmeros cidadãos, o Governo permite generalizada onda de aumentos de produtos e serviços essenciais: alimentos, vestuário, energia, transportes, serviços: clínicos, de ensino, administração pública: que, nalguns casos, chegam a ser de 50%. Uma desgraça nacional!

Desgraça nacional precedida da que resultou das desgovernações dos governos chefiados pela sombria dupla Passos Coelho/Paulo Portas que – não esqueçamos – prometera empobrecer os portugueses e, acintosamente, cumpriu a promessa; dando azo, com a rigorosa austeridade, a muitas mortes nunca documentadas em estatísticas, como convinha acautelar.

Hoje, tem-se a muito sentida e nefasta experiência de que a desgraça herdada pela “geringonça” foi sendo prosseguida e ampliada pelos membros do Regimento de Infantaria Governamental; o qual, está prestes a atingir o termo das suas desastradas “manobras” efectuadas no campo delimitado da medíocre e deficiente política; esta, sublinhe-se, configurada nos limites da sua pequenez e mal-amanhada interpretação e de muito prejudicial aplicação no seio da sociedade portuguesa.

Enfim, tudo de incorrecta orientação sociopolítica, bastante congeminado e posto em prática para complicar ao máximo e aniquilar as vidas das pessoas singulares e seus familiares; quiçá, para concretizar a encapotada extinção da “peste grisalha” como foi sugerido pelo deputado da triste figura, Peixoto, não por acaso, enfermo da temível peste parlamentar; para facultar proventos e diminuir um défice que se quer apropriado para se consumirem milhões de euros em esbanjamentos operacionais, rendimentos faustosos facilitados a governantes, políticos, a “Donos Disto Tudo” e a ilustres especialistas do enriquecimento ilícito e da generalizada corrupção.

Diga-se que é uma inqualificável arbitrariedade e uma grande indecência sujeitar os idosos reformados ao pagamento do detestado imposto IRS; eles que tão vilmente têm sido maltratados/desprezados. De realçar que nem na ditadura salazarista se cobravam impostos sobre as pensões dos funcionários aposentados da função pública. Foi um governo socialista que os introduziu. Quem diria?

* Doutorado em Estudos Culturais, autor. https://www.facebook.com/brasilino.godinho

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