A participação do cidadão comum na ciência, conhecida como “ciência cidadã”, destaca-se como uma abordagem inovadora e promissora no campo educacional. Esta abordagem pressupõe a colaboração ativa de pessoas não especialistas em projetos científicos, permitindo que os alunos e os cidadãos se envolvam diretamente na produção de conhecimento científico. Um exemplo notável dessa prática tem sido desenvolvido no Smart School Lab (SSL), onde uma série de projetos em cocriação com alunos tem sido implementada em contexto educativo.
Por Manuel Santos *
Os projetos desenvolvidos no SSL têm como foco principal as problemáticas locais identificadas pelos próprios alunos, que são posteriormente trabalhadas nas salas de aula. Essa abordagem permite que os alunos se sintam envolvidos e motivados, uma vez que estão a lidar com questões reais e significativas do seu próprio ambiente. Os alunos aplicam conceitos científicos de maneira prática e significativa, preenchendo as lacunas entre a teoria e a prática.
Dentre os projetos criados no SSL, destacam-se alguns exemplos notáveis. O “Smart Move” é um projeto que promove o uso de mobilidade suave na comunidade, por meio do desenvolvimento de um carregador de bicicletas elétricas. Já o “Smart Color” tem como objetivo determinar o tipo de reciclagem com base na identificação da cor dos sacos de reciclagem, sendo aplicado em contexto educativo com alunos do ensino básico.
Outro projeto interessante é o “Smart Green”, que consiste na automatização de uma estufa da escola pelos alunos. Essa iniciativa não apenas proporciona aos alunos a oportunidade de aprender sobre plantas e o cultivo, mas também os envolve no desenvolvimento de soluções tecnológicas aplicadas à agricultura.
A pandemia trouxe desafios adicionais para a comunidade escolar, e o projeto “SmartInAir” foi uma resposta direta a um desses desafios. Esse projeto visa a detecção do índice de CO2 nas salas de aula, com o objetivo de monitorizar a qualidade do ar e garantir um ambiente saudável para os alunos. Por meio de um semáforo de cores, é possível indicar se é necessário realizar o arejamento das salas, contribuindo para a segurança e o bem-estar de todos.
Além destes projetos, o “Bike Track” permite identificar os ecopontos cheios e enviar essa informação às entidades responsáveis pela recolha da reciclagem, agilizando o processo e promovendo a sustentabilidade. O “Smart Sound” monitoriza o nível de ruído, sendo aplicável em ambientes industriais barulhentos. Já o “SmartAir” realiza a monitorização das partículas PM de valor 2.5 e 10.0, que podem causar problemas respiratórios.
O envolvimento dos alunos nesses projetos tem despertado neles a curiosidade e o interesse pela ciência. São desafiados a pensar criticamente, a trabalhar em equipa e a partilhar as ideias com os seus colegas. Esta abordagem colaborativa e interdisciplinar desenvolve competências essenciais, como a resolução de problemas e o pensamento crítico, por meio de experiências práticas.
Ao integrar a ciência cidadã no currículo escolar, os projetos STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) são realizados de forma interdisciplinar, conectando diferentes áreas do conhecimento o que proporciona uma aprendizagem mais rica e contextualizada, fortalecendo o ensino das disciplinas científicas.
À medida que a ciência cidadã se torna cada vez mais integrada no campo da educação, é essencial que os professores incentivem e apoiem os alunos nesta jornada. Ao estimular a curiosidade, a colaboração e o pensamento crítico, a ciência cidadã pode capacitar os alunos a serem cidadãos mais ativos, envolvidos e capazes de enfrentar os desafios futuros com confiança.
* Investigador do Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.
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