O futuro das cidades deverá desenvolver-se junta e paralelamente com os transportes. A forma de transportar pessoas e bens, os próprios hábitos da mobilidade, caminham em direção ao conceito da cidade dos quinze minutos.
Por Gil Nadais *
A ideia é de que cada vez mais as cidades sejam planificadas no sentido de, num curto espaço físico e num curto espaço de tempo, seja possível serem encontrados os serviços, os equipamentos e bens essenciais para suprir todas as necessidades do cidadão comum.
Cada vez mais caminhamos no sentido de entender a mobilidade numa perspetiva ‘macro’, apoiada nos transportes de longo curso, entre os centros de produção e de grande distribuição; e numa perspetiva ‘micro’ centrada nas necessidades do cidadão.
A necessidade de descarbonização a que assistimos, por exemplo, no transporte pessoal, estende-se também à distribuição.
No longo curso estão a ser dados passos no sentido de tornar navios, aviões e camiões mais eficientes em termos de consumos energéticos, mas ainda distantes de atingirem as tão almejadas zero emissões, pois a única forma de eficientemente armazenar energia ainda passa pelo recurso aos combustíveis tradicionais.
Assim sendo, é nas médias e curtas distâncias que, neste momento, dispomos de alternativas viáveis.
Cada vez são mais as empresas que apostam em soluções descarbonizadas para os transportes de médio curso. Neste momento são várias as opções no mercado, nomeadamente na categoria até aos 3.500 quilos, de veículos elétricos, capazes de suprirem necessidades de transportes de bens e pessoas no médio curso. Entenda-se por médio curso as deslocações diárias medidas em dezenas de quilómetros.
Estas serão as deslocações realizadas entre centros de distribuição e locais de venda, no caso dos bens ou, no caso das pessoas, em transportes públicos de carácter radial, ou circular, nas cidades.
Na dimensão humana do transporte, a bicicleta ganha cada vez mais terreno e irá, perspetiva-se, ganhar um papel de cada vez maior relevância, com a emergência de novas formas e utilizações.
O conceito da distribuição da última milha (last mile) ganha protagonismo na cidade dos quinze minutos e na bicicleta, tal como hoje a conhecemos, encontramos o meio de transporte ideal.
A bicicleta elétrica nivela o relevo das cidades, afirmando-se como o meio ideal para a micro mobilidade e as cargo bikes desempenham um papel semelhante no transporte de mercadorias.
A forma da bicicleta está a evoluir, juntamente com o ecossistema em que se integra.
Assim a própria bicicleta evolui em forma e em conceito. Avança no sentido de criar uma opção de transporte cada vez mais amiga do utilizador, defendendo-o de ‘ameaças’ externas, seja pela integração de elementos de segurança ativa, seja pela integração de elementos protetores relativamente às ameaças do ambiente.
A bicicleta é cada vez mais um veículo tecnológico, dotado de tecnologia e fruto de uma indústria cada vez mais dotada de equipamentos e tecnologias de ponta.
Hoje, Portugal detém capacidade produtiva – somos o maior produtor de bicicletas da Europa–, detém capacidade tecnológica e alarga a sua capacidade produtiva, em oferta e diversidade.
O desenvolvimento de novos produtos, a inovação no método produtivo e criativo, a capacidade e o ‘saber fazer’ são hoje bandeiras do nosso país enquanto produtor de soluções para as necessidades da mobilidade suave.
Portugal é hoje capaz de produzir quadros em carbono, sendo o primeiro país fora da Ásia a deter a tecnologia e a capacidade de o fazer e dentro de muito pouco tempo vai estar também na linha da frente da produção de cargo bikes, graças à junção de esforços da Ciclo Fapril e da Triangles, que dotam Portugal de respostas para a última milha, já pensar no futuro próximo da cidade dos quinze minutos.
* Secretário Geral da ABIMOTA – Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas, Ferragens, Mobiliário e Afins. Publicada originalmente no site Greenfuture.