A capa e a contracapa: A imagem que os turistas levam de Portugal

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Turistas (Foto partilhada no Facebook Visit Portugal).
Natalim3

Quando olhamos para o nosso país, é natural encontrarmos diferentes realidades, quando falamos, por exemplo, das assimetrias do território, dos grandes eventos que acontecem nos grandes centros urbanos, ou da rede de transportes que serve melhor a região A do que a região B.

Por Ana Jacinto *

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Mas o que quero aqui relatar, é algo que vai além destas constatações. O nosso país não só anda a velocidades diferentes, como parece haver dois países, um de capa de revista e outro remetido à contracapa, a que ninguém liga.

O que vou descrever foi vivido na primeira pessoa, não é história ficcionada e, por isso, a todos deve preocupar. Na semana passada tive de me deslocar de Lisboa ao Porto e, desta vez, na sequência de uma lesão que me impediu de conduzir, resolvi por bem usufruir da experiência de uma viagem de comboio.

Optei então por comprar um bilhete “Conforto” (1.ª Classe), em vez da Classe “Turística” (2.ª Classe), designação que não entendendo e desaprovo totalmente. De forma injustificadamente depreciativa, parecem associar os nossos turistas a uma classe “inferior”. Por certo “Económica” seria muito mais adequado e simpático. Fica o pedido e a sugestão à CP.

Mas continuando a viagem, ou melhor, a saga, porque a viagem ainda nem sequer tinha começado e os problemas já tinham surgido logo que cheguei à plataforma, dado que, o comboio chegou à estação quase 40 minutos depois da suposta hora da partida, sem qualquer informação partilhada com os passageiros que esperavam e desesperavam.

Chegada finalmente a partida, todos se mostraram aliviados, e nestes “todos” incluíam-se muitos turistas internacionais, que, no entretanto, consegui que não entrassem noutros comboios que iam passando para outros destinos – qual guia turística – pois a informação era inexistente.

Mas, afinal, o alívio não durou muito e uma viagem que não chegava a 3 horas, demorou cerca de 5 horas e meia!

Percebo que imprevistos podem sempre acontecer, o que já não posso aceitar é que não haja a devida atenção para com o cliente e o cuidado de o informar devidamente. Se a informação foi escassa para os portugueses, com um breve “Senhores passageiros a via encontra-se congestionada” e mais tarde “Estamos parados devido a um descarrilamento na via” sem qualquer previsão para a hora de chegada, imaginem os turistas estrangeiros, que nada compreendiam, pois, a pouca informação era partilhada, exclusivamente, na nossa língua materna.

E esta é a imagem que levam de nós, e que não corresponde à capa da revista que viram sobre Portugal como destino de excelência.

Por vezes é preciso sair da nossa bolha para sentir o país real, e o turista, regra geral, não está numa bolha. Portugal não é um destino onde o turista se remete a um resort onde tudo se passa de forma previsível e perfeita. O nosso destino somos nós, a nossa vivência, a nossa autenticidade e as experiências que lhe conseguimos proporcionar. E esta pode ter marcado, e não pelas melhores razões.

Mas eis que chego ao meu destino – cerca de 5 horas e meia depois – e dirijo-me para a Conferência a que ia assistir e à qual já cheguei fora de tempo, cujo tema era o Poder das Marcas Regionais no Turismo. E mais não digo. Palavras para quê?

* Secretária Geral da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal. Artigo publicado originalmente no Diário de Notícias

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