A arte de empurrar com a barriga

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Imagem de arquivo.
Natalim3

Por vezes somos levados a pensar que Portugal é um país especializado na arte de empurrar com a barriga. Os problemas são discutidos, os governos são criticados, os cidadãos aborrecem-se mas nada de essencial parece mudar. Consideremos uma meia dúzia de exemplos:

Por Miguel Pina e Cunha *

A construção do novo aeroporto é um tema mais longo que qualquer telenovela. Mal regressaram os primeiros turistas, instalou-se o caos, com a prestimosa ajuda do SEF que ia acabar mas não acabou e voltou aos holofotes por más razões. A trapalhada recente acrescentou um elemento tragicómico a esta não-decisão.

A ferrovia não é modernizada mas o uso do automóvel é penalizado.

A justiça é um embaraço. Anda mais devagar que um caracol preguiçoso. E dá tantas garantias a quem pode pagar que se assemelha a tudo menos a justiça.

A saúde e a educação andam pelas ruas da amargura. Os seus profissionais são desconsiderados e mal pagos. Ser professor no primário e no secundário, em particular, é um trabalho para heróis.

No ambiente, os especialistas vieram alertar para os perigos que se acumularam em Pedrógão, dando continuidade à estival destruição florestal. A degradação dos solos também não comove ninguém

O país é despromovido nos rankings da competitividade. O que significa a continuação da debilidade económica o deslizamento para a cauda da Europa. Sem riqueza e bons empresários não se vai a lado nenhum mas ideologicamente o combate aos ricos tem ressonância em partes da população. O problema, como disse Paulo Rosado, fundador da OutSystems, é que “Portugal tem os ricos mais pobres da Europa”, acrescentando que Portugal é “o único país onde o sucesso é altamente penalizado”. Assim não se vai longe.

Portugal, em suma, é o país em que nada parece mudar. Esta placidez anti-reformista é muito confortável mas também é uma receita segura para continuarmos a ser os pobres da Europa. Seria bom que, em vez de apostar na procrastinação, procurássemos ser bons antecessores – das futuras gerações. Talvez seja pedir demasiado.

* Diretor da revista Líder Magazine.

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