A agricultura inteligente não é apenas uma opção!

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A agricultura inteligente, que integra tecnologia avançada como Internet das Coisas (IoT), big data, e inteligência artificial (AI), representa uma evolução necessária e inevitável para o setor agrícola. Em Portugal, um país com forte tradição agrícola, essa transformação é particularmente relevante para garantir a competitividade no mercado interno, europeu e mundial, bem como a adaptação às mudanças climáticas. No entanto, a implementação da agricultura inteligente no país enfrenta desafios significativos que no meu ponto de vista, necessitam serem abordados com urgência.

Por António Martins Bonito *

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Portugal tem uma agricultura caracterizada por pequenas e médias explorações, muitas das quais familiares, que historicamente têm operado com recursos limitados e práticas tradicionais. Embora essas práticas sustentem a identidade cultural e produzam alimentos de alta qualidade, elas também representam em si, um obstáculo para a adoção de tecnologias mais avançadas.

Além disso, a média etária elevada dos agricultores portugueses é um fator que não pode ser ignorado. A resistência à mudança, comum em qualquer setor com uma população envelhecida, dificulta a aceitação de novas tecnologias. A falta de familiaridade com ferramentas digitais e a desconfiança em relação à tecnologia muitas vezes leva à inércia, perpetuando métodos de produção que são, em muitos casos, ineficientes e insustentáveis.

Há também que referir aquilo que podemos apelidar de barreiras tecnológicas e económicas, centrada naquilo que é a infraestrutura tecnológica dos territórios. Em muitas áreas rurais de Portugal, o acesso à internet de alta velocidade ainda é limitado. A agricultura inteligente depende fortemente da conectividade para monitorizar culturas, otimizar o uso de recursos e prever condições meteorológicas. Sem uma infraestrutura robusta, a implementação dessas tecnologias torna-se impraticável.

O custo inicial associado à implementação de tecnologias inteligentes nas explorações agrícolas, também é um obstáculo significativo. Sistemas de sensores, drones, e softwares especializados representam um investimento substancial, algo que muitos agricultores portugueses, com margens de lucro já apertadas, simplesmente não podem suportar. Mesmo com incentivos e apoio do governo, a adoção em larga escala ainda é um desafio, especialmente para os pequenos agricultores.

No que concerne às questões da sustentabilidade e da educação/formação, a sustentabilidade é outro fator que torna a transição para a agricultura inteligente complexa. Embora as tecnologias modernas prometam uma produção agrícola mais sustentável a longo prazo, a mudança inicial pode parecer arriscada e contraintuitiva para aqueles que estão acostumados a métodos tradicionais. Sem uma compreensão clara dos benefícios a longo prazo, muitos agricultores hesitam em adotar práticas que, à primeira vista, parecem apenas aumentar os custos e a complexidade.

Assim, parece-me que a educação e a formação desempenham um papel central na superação desses mesmos desafios. Há uma necessidade urgente de programas abrangentes, que capacitem os agricultores a utilizar novas tecnologias de forma eficaz. No entanto, a criação de tais programas exige um esforço coordenado entre o governo, instituições de ensino e o setor privado, algo que nem sempre é fácil de organizar e implementar de maneira eficiente.

Para que a agricultura inteligente se torne uma realidade em Portugal, é imperativo que o governo assuma um papel ativo. Políticas públicas devem ser desenhadas não apenas para subsidiar a tecnologia, mas também para apoiar a educação e a formação contínua dos agricultores. Incentivos fiscais, programas de financiamento acessíveis e parcerias público-privadas podem ser mecanismos eficazes para superar as barreiras económicas e tecnológicas.

Além disso, a modernização da infraestrutura rural é essencial. Investir na expansão da conectividade nas zonas rurais, por exemplo, é um passo fundamental para garantir que os agricultores possam adotar e utilizar tecnologias inteligentes de maneira eficaz.

Em termos de conclusão, a transição para a uma agricultura inteligente em Portugal é um processo complexo, mas necessário. Os desafios são muitos e vão desde questões culturais e demográficas até barreiras tecnológicas e económicas, mas também sociais. No entanto, com um esforço coordenado entre as partes envolvidas, nomeadamente governo, setor privado (ensino e organizações de agricultores) e a comunidade agrícola, é possível superar esses obstáculos e garantir que Portugal não apenas mantenha, mas fortaleça a sua posição no setor agrícola. A agricultura inteligente não é apenas uma opção; é uma necessidade para garantir a sustentabilidade e a competitividade do setor no futuro.

* Agricultor | Professor no IPVC. Artigo publicado originalmente no site Agroportal.

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