Imobiliário.

Costuma dizer-se que o amor é cego. Mas, em Portugal, em face dos preços proibitivos dos imóveis e a sua escassez, arrisco dizer que o amor é cego, surdo e, infelizmente, pobre.

Por Francisco Mota Ferreira *

Em Portugal, os dados do último trimestre de 2024 mostram que os preços da habitação dispararam 9,1 % face ao período homólogo, segundo o INE, enquanto a média da União Europeia ficou-se pelos 4,9 % – um verdadeiro sprintnacional, a quase o dobro do ritmo europeu. Por isso, há mesmo razões para desesperar: encontrar a casa ideal, que se consiga encaixar no orçamento familiar, é, hoje em dia, mais difícil do que sacar um sorriso àquela loira de 1.80cm que conheceu naquele evento de speed‑dating.

As famílias com rendimento médio sentem‑se como equilibristas num cabo de aço: esticam o orçamento entre a renda que não baixa e o valor de compra que é inacessível. Isto para além de verem o seu Banco como aquele ex‑namorado(a) que nunca mais nos larga, apesar de termos a ideia que a nossa relação já acabou há anos. A pressão permanente quando se está a falar na compra de um imóvel é de tal ordem que o sonho de ter casa própria facilmente se transforma num pesadelo onde simulações, juros, anos de pagamento e riscos de incumprimento são os monstros para nos assombrar.

E atenção: já não estamos a falar de uma simples tempestade num copo de água. São várias as consultoras a operar no mercado a avisar que em 2025, a escassez de imóveis disponíveis — exacerbada pelos custos de construção em alta e pela enxurrada de turistas de AL — deverá empurrar os preços dos imóveis para um novo patamar, com perspetivas de crescimento entre 5 % e 8 % face a 2024. Se isto até pode ser bom para os consultores ou agências que agarrem os imóveis disponíveis, o facto é que neste jogo, a “casa a preço amigo” mantêm‑se fora do tabuleiro. E, quem não quiser passar fome, terá de procurar em áreas cada vez mais distantes das grandes urbes como Lisboa ou Porto, onde os preços estão já ao nível do obsceno. Isso ou então rezar para que chegue um milagre legislativo. E, de preferência, um que não crie tanta polémica ou confusão como a malfadada Lei dos Solos.

No final, resta a esperança de que as políticas públicas se alinhem com soluções criativas — habitações modulares, incentivos à reabilitação urbana e áreas de co‑housing, por exemplo — antes que o mercado traga ao palco o número mais caro de todos: o de famílias que desistem de procurar um lar. Porque, no fim das contas, a casa não é só de quem a compra, mas de quem nela pode viver e dela fruir em pleno. Já agora, com um sorriso e a lidar o mínimo possível com os vários pesadelos que ter conseguir uma habitação condigna se tornou.

* Artigo publicado originalmente no site Diário Imobiliário.

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