Terras raras: Europium

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Terras raras.

O tema “terras raras” tem ganho destaque e, atualmente, é objeto de discussões em diversos contextos, em grande parte devido à mediatização do cenário internacional complexo que atravessamos. Afinal o que são as terras raras?

Por Tito Trindade *

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O európio é um elemento químico que pertence ao dito conjunto das terras raras, no entanto, a sua abundância na crosta terrestre é comparável à do estanho, um metal utilizado em fios de solda e ligas de bronze. As terras raras foram descobertas, em sua maioria, durante o século XIX, tendo esta designação sido associada na altura a uma série de metais quimicamente semelhantes ao elemento lantânio. Estes metais ficaram por isso conhecidos como os lantanídeos. As amostras minerais utilizadas para extrair os lantanídeos continham, frequentemente, os metais escândio e ítrio, este último conhecido desde 1794. Pelo que a designação “terras raras” ficou associada a todos estes metais, perfazendo um conjunto de dezassete elementos químicos.

Contudo, os termos “terras” e “raras” são ambos pouco rigorosos no contexto da química atual destes elementos. A palavra “terras” era utilizada pelos antigos cientistas para classificar substâncias refratárias, tipicamente constituídas por óxidos metálicos que se dissolviam na presença de ácidos. Também a adjetivação “raras”, quando aplicada aos elementos químicos indicados acima, sugere uma ideia errónea relativamente à sua abundância. É certo que estes elementos não abundam como o oxigénio, silício e alumínio, por exemplo. Por outro lado, com a exceção do promécio, que é constituído por átomos radioativos, estes metais não são propriamente raros na crosta terrestre. Acontece que na altura não eram conhecidas as reservas de minerais contendo estes elementos, que atualmente são exploradas em algumas regiões geográficas, sendo as terras raras antes obtidas a partir de fontes dispersas. O facto de a química destes elementos ser semelhante, também dificultou o seu processo de descoberta e separação a partir de matérias-primas nas quais estes elementos ocorrem combinados.

Apesar da sua atualidade, a abordagem deste assunto tende a esquecer que o apetite por determinados elementos químicos não está limitado às terras raras. O problema é mais vasto, tal como facilmente se depreende por uma breve viagem através do mapa constitutivo da matéria que nos rodeia, a Tabela Periódica dos Elementos Químicos, nomeadamente na sua versão para um desenvolvimento sustentável. Efetivamente, existem outros elementos essenciais para várias aplicações utilizadas nas sociedades modernas, por isso mesmo colocados num cenário tecnologicamente crítico, dada a sua utilização intensiva e demanda crescente.

Assim, para além das terras raras, encontram-se neste conjunto de elementos tecnologicamente críticos, os metais preciosos do chamado grupo da platina, bem como outros metais e semimetais, como sejam o cobalto e o germânio, entre muitos outros. Enfim, falamos de elementos imprescindíveis ao funcionamento de um vasto conjunto de dispositivos, dos quais as sociedades modernas dependem fortemente, como por exemplo telemóveis e motores elétricos. Acresce que existe um fator geopolítico determinante, acima referido de passagem. As unidades de exploração de elementos críticos a partir de recursos minerais de ocorrência natural encontram-se desigualmente distribuídas geograficamente. Por exemplo, para as terras raras, as maiores reservas e explorações encontram-se concentradas na China.

O elemento químico que serve de mote a este texto, o európio (do latim europium), foi assim batizado em homenagem ao continente europeu, onde foram descobertas todas as terras raras naturais. Porém, este metal não abunda neste continente e o mesmo se aplica a outros elementos tecnologicamente críticos. Sob esta perspetiva, a Europa está atualmente dependente de outros países para implementar a transição digital e energética, assumida como uma prioridade. Por outro lado, criatividade por antecipação e engenho na concretização, são qualidades reconhecidas aos povos europeus, que devem ser cultivadas para que não se tornem elas raridades.

Neste contexto, assumem grande importância estratégias e medidas concretas que visam mitigar o problema acima colocado. Estas serão de natureza muito diversa, mas seguramente que passam, também, pela aposta na educação, investigação e inovação, com o reforço de práticas que visam a boa utilização e recuperação de elementos tecnologicamente críticos. Cabem neste domínio diversas atividades conexas, como sejam as boas práticas de reciclagem de materiais, que decorrem de apostas na educação, e o não abandono de áreas científicas fundamentais para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Estas tecnologias emergentes poderão vir a ser aplicadas, por exemplo, em unidades de reciclagem de lixo eletrónico, ou ainda, no reaproveitamento de lamas residuais que resultam de explorações mineiras convencionais. A recuperação de elementos críticos a partir de fontes secundárias, com posterior reintrodução no ciclo produtivo, não resolverá totalmente um problema tão intrincado, contudo faz parte de uma solução sustentável. É uma estratégia que reduz impactos ambientais e custos na saúde, que são elevados na exploração mineira de metais críticos e, não menos importante, trata-se de um contributo efetivo na implementação de uma economia circular.

* Professor Catedrático na Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.

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