Aveiro: A Cidade que se Esqueceu de Reter o Futuro

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IERA - Incubadora da Região de Aveiro.

Aveiro orgulha-se de ser um polo de inovação e de conhecimento, alimentado pelo fluxo de jovens talentos que escolhem a cidade para estudar e concretizar ideias arrojadas. Ano após ano, surgem projetos com projeção internacional e atrai-se a atenção dos que acreditam na capacidade local de gerar negócios altamente inovadores.

Por Francisco Albuquerque *

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Ainda assim, uma pergunta insiste em pairar: por que motivo tantos empreendedores e profissionais de excelência acabam por abandonar Aveiro assim que os seus projetos ganham dimensão? Há quem nasça para o sucesso nos laboratórios e salas de aula da universidade, mas, quando as empresas atingem valores de mercado surpreendentes, a escolha recai noutros mercados e ecossistemas, por vezes até em cidades vizinhas.

São exemplos disso a Remote, fundada pelo ex-aluno da UA Marcelo Lebre e avaliada em mais de 2.5 mil milhões de euros, a Sword Health, liderada por Virgílio Bento e já acima dos 2 mil milhões, ou a miio, criada também na Universidade de Aveiro e entretanto adquirida pela Repsol, cujos fundadores trabalham agora em Espanha.

A verdade é que formações de topo e discursos de marketing territorial não bastam se não existirem condições sólidas de fixação. Falta, por exemplo, um circuito de financiamento capaz de acompanhar cada fase de crescimento dos projetos. Faltam políticas camarárias que tratem os empreendedores como parceiros privilegiados, em vez de levantarem entraves ou atrasarem processos.

Falta, sobretudo, capacidade de abrir portas a um verdadeiro ecossistema tecnológico, onde se interliguem a universidade, as grandes empresas, a administração local e os investidores. Aveiro perde, assim, a possibilidade de captar e reter mentes que poderiam dar vitalidade ao comércio, à habitação e a todo o tecido económico. Em vez disso, a cidade mantém-se refém de um ciclo quase irónico: forma-se, cria-se, parte-se – e pouco sobra de palpável para o futuro.

Sobram também contradições que simbolizam na perfeição esta dificuldade de fixar talento. Como poderá Aveiro aspirar a tornar-se um polo de referência, capaz de disputar especialistas com cidades maiores, se nem sequer consegue resolver questões básicas de conectividade? Como reter pessoas ávidas por expandir empresas, se as duas autarquias – Ílhavo e Aveiro – nem sequer se entendem sobre algo tão essencial como a ligação e a expansão do PCI à Rua da Pêga?

Sem avanços palpáveis, o potencial de Aveiro continuará a ser apenas isso: um entusiasmo que nunca se cumpre, deixando a cidade ficar a meio caminho entre o sonho e a realidade.

* Gestor Industrial.

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