Comemorar o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, é relembrar este trajecto, a imensa coragem e sacrifício de gerações de mulheres trabalhadoras.
Filipe Guerra *
Dentro de dias será assinalado mais um “Dia da Mulher”, a 8 de Março. E hoje parece ser cada vez mais importante reafirmar a natureza desta data, a sua motivação e aquilo que de facto representou e deve representar na dignificação e valorização do papel da Mulher na sociedade, para uma sociedade de iguais, sem discriminações.
De há muito a esta parte o pensamento dominante, das classes dominantes, com todos os seus instrumentos de poder cultural, social, conjuntamente com pequenos e grandes interesses económicos procuraram e procuram activamente desconstruir a natureza e a perceção pública sobre o que é o Dia da Mulher, transformando este dia não numa jornada de grande significado ideológico mas numa festa meramente celebratória destituída dos seus fundamentos.
Este Dia celebra a luta ancestral das mulheres por uma nova vida, uma nova condição sem descriminações e desigualdade. É um Dia que resulta de um processo ancestral de luta que se intensificou com a revolução industrial no final do século XIX. Foi em Nova Iorque, num 8 de Março de 1857, que as mulheres operárias numa fábrica de tecidos ocuparam a fábrica reivindicando a redução da jornada de trabalho para 10 horas(trabalhavam 16!), igualdade salarial com os homens(recebiam cerca de 1/3) e tratamento digno. Uma greve que seria violentamente reprimida.
Mais tarde, em 1910, em Copenhaga, na Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, por proposta da comunista alemã Clara Zetkin é instituído o 8 de Março como data anual de luta pelos direitos das mulheres trabalhadoras.
De então para cá muito se andou. A condição da Mulher na sociedade teve alterações significativas em muitas zonas do mundo (noutras não), houve avanços civilizacionais como o direito ao voto, mas, e ainda assim, pelo menos dois factos, ao longo deste trajecto parecem incontornáveis: muito há ainda por fazer em diversas esferas da sociedade e da vida e ainda que os direitos arduamente conquistados se não forem defendidos podem ser perdidos.
Assim, comemorar o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, é relembrar este trajecto, a imensa coragem e sacrifício de gerações de mulheres trabalhadoras, às vezes para que se dessem os mais pequenos passos(mas sem os quais não havia os grandes), e assinalar o muito que há ainda por fazer contra as injustiças, descriminações e abusos que se mantém.
E assinalar e sublinhar fortemente que no determinante campo das relações laborais, as mulheres são ainda hoje alvos preferenciais da precariedade, do desemprego, dos baixos salários, dos horários prolongados, de doenças profissionais e de diversas formas de abuso e assédio.
* Jurista, eleito do PCP na Assembleia Municipal de Aveiro.