O argumento de que o aumento da largura de banda, as velocidades inigualáveis, os tempos de resposta imediatos e a maior densidade de equipamentos ligados irão tornar as cidades mais conectadas e inteligentes é irrefutável, mas precisamos de trazer para cima da mesa um conjunto de novas funcionalidades e de benefícios tangíveis para os municípios e os seus habitantes.
Por Miguel Eiras Antunes, Global Smart Cities & Local Government Leader da Deloitte / André Santiago, Manager da Deloitte / Pedro Vaz, Manager da Deloitte *
O desafio tecnológico de disponibilizar no nosso país a nova geração de comunicações móveis está a ser acolhido com entusiasmo, e a anunciada chegada do 5G irá permitir o lançamento de novos serviços e funcionalidades com benefícios para os cidadãos e municípios.
As redes móveis 5G vão surgir em escala, facultando conexões mais rápidas para consumidores e empresas e disponibilizando novas oportunidades de receita para as operadoras de telecomunicações. As previsões na adoção do 5G apontam, aliás, um caminho muito otimista. O estudo TMT Predictions 2019, da Deloitte, estima que mais de um milhão de dispositivos móveis 5G será vendido este ano, a nível global. Um valor que deverá subir para 15-20 milhões até 2020.
A equação consumidor/empresas está amplamente estudada e planeada, mas, neste cálculo, escasseia ainda o debate público em torno do impacto do 5G na criação de autarquias mais inteligentes e tecnológicas.
O argumento de que o aumento da largura de banda, as velocidades inigualáveis, os tempos de resposta imediatos e a maior densidade de equipamentos ligados irão tornar as cidades mais conectadas e inteligentes é irrefutável, mas precisamos de trazer para cima da mesa um conjunto de novas funcionalidades e de benefícios tangíveis para os municípios e os seus habitantes.
De facto, o 5G apresenta um enorme potencial para os líderes municipais, já que as cidades irão sofrer transformações transversais, que dependem de comunicações móveis de excelência, impactando diversos setores e indústrias, tais como a saúde, o ambiente, os transportes, a educação e a segurança pública. Falamos, por exemplo, de melhorar a qualidade do ar e o consumo de energia, reduzindo a poluição e resíduos ou implementando sistemas de mobilidade que reduzam o trânsito; de facilitar o acesso a sistemas de saúde, impulsionados por telecare, wearables para medição de sinais vitais e diagnósticos remotos; e do reforço da segurança pública monitorizando e reagindo instantaneamente em caso de emergências, com a utilização de drones ou de connected ambulances.
Na vertente económica, a massificação do 5G irá também contribuir para a criação de novos postos de trabalho que irão dar resposta a estes benefícios sociais, impactando no crescimento económico das cidades através de investimentos diretos e indiretos e aumentos de produtividade.
Os municípios devem, assim, adotar um posicionamento no ecossistema do 5G, procurando uma real captação de valor, tal como começamos já a verificar noutras cidades na Europa:
• Atuar como um enabler do 5G ao facilitar e promover novas utilizações e funcionalidades (ex.: a cidade de Turim está a aplicar realidade virtual nas visitas às galerias Pietro Micca); ser palco para o teste de carros autónomos; ou implementar uma sala de controlo de smart cities integrando serviços como smart traffic, iluminação e recolha de lixo;
• Monetizar as infraestruturas públicas, como condutas de eletricidade ou água ou postes públicos, dando acesso aos operadores para a instalação de antenas 5G para responder à densidade de dispositivos móveis necessária, tal como está a fazer a cidade de Newbury em Inglaterra;
• Operar uma abordagem de infraestrutura neutra para garantir a qualidade e igual acesso de todos os operadores à rede. Veja-se o exemplo dos transportes públicos de Londres, que lançaram um concurso para a instalação de uma infraestrutura de conectividade dentro da rede do metro.
Por exemplo, o aumento do número de antenas necessárias para a cobertura de uma região deve ter em atenção que não se excedem os níveis de radiação nem se coloca em causa aspetos estéticos da cidade, ao mesmo tempo que se deve simplificar as autorizações para a respetiva instalação.
A revolução também passa, de facto, pelas nossas cidades. E, nesse âmbito, o poder autárquico desempenha um papel fundamental na promoção de um conjunto de benefícios sociais e económicos decorrentes do 5G, trazendo para agenda pública um diálogo sustentado no interesse dos seus cidadãos.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.
* Artigo publicado na revista Smar-cities.pt .