Suzana Nobre, ilustradora revelada pelo livro “Rota do Bairro da Beira Mar”, em parceria com Suzana Caldeira, diz que desenhar ajuda a conhecer melhor e memorizar o que a rodeia.
Foto: Carla Menezes
Descobriu cedo esse talento natural para desenhar?
Gosto essencialmente de desenhar à vista e no local, tendo como base de trabalho os diários gráficos. Não tenho concretamente um tema preferido, mas existem uns quantos que são recorrentes nos meus desenhos e são o que mais me atraem: pessoas, concertos, paisagens rurais, elementos naturais e rústicos, pormenores… No ambiente urbano gosto de desenhar edifícios que tenham alguma particularidade histórica, simplesmente bonitos ou interessantes em termos de desafio de desenho. No registo de pessoas gosto muito de captar as suas expressões, tenho o hábito de, quando faço viagens de comboio, aproveitar para as desenhar, pois é uma boa oportunidade de apanhá-las sossegadas e distraídas com algo. As reportagens gráficas de um evento também é algo de que gosto muito, principalmente por ter pessoas, movimento, a possibilidade de deixar registado aquele acontecimento. Essencialmente, tudo o que desenho é porque quero conhecer melhor as coisas e é uma excelente forma de as reter e memorizar o que gosto.
Acaba por seguir a área em termos de formação, foi juntando o útil ao agradável.
Fiz a minha primeira colaboração na ilustração de um romance de um amigo, que me desafiou a fazer uns desenhos que acompanhassem alguns momentos da história. Foi no livro “Nunca Serei Velho” de Ilídio Carreira. O livro de Aveiro – “Rota da Beira Mar” é mais recente, surgiu através do convite da Suzana Caldeira da Explore – Aveiro Walking Tours, para colaborar com ela num livro de turismo que queria fazer sobre Aveiro, algo de leitura acessível, bonito e que desse a conhecer a cidade de Aveiro, não só aos turistas mas também aos Aveirenses. A Suzana identificou-se muito com os meus desenhos sobre Aveiro, pois representavam os locais e os pormenores que ela queria explorar no livro. Aceitei por achar que era um desafio muito interessante e que complementava de certa forma a história que os meus desenhos contavam. Sim é para continuar, temos em mente outros projetos nos quais começámos a trabalhar, sobre outras zonas da cidade de Aveiro e outros temas.
Para além destes projetos, vou colaborando pontualmente em edições coletivas de livros sobre Urban Sketching organizadas pela associação Urban Sketchers Portugal, tendo participado num livro sobre Lisboa e noutro sobre Portugal.
“A ria é infindável, encontram-se paisagens e enquadramentos muito bonitos quando se explora a pé e com tempo”
A trabalhar como designer de produto é diferente a abordagem, menos artística e mais útil, talvez,ou também criativa?
Há muitas outras áreas que pretendo abordar, cruzo-me constantemente com referências que me despertam curiosidade e vontade de as explorar, desde a cerâmica ao têxtil, outras técnicas de desenho e pintura. Sempre que posso faço formações nas mais diversas áreas que me podem trazer mais conhecimento na área artística e não só. Vou fazendo muitas experiências e algumas acabo por incorporar no meu trabalho.
No desenho, o que atrai mais? Figuras, paisagens, costumes, um misto, como caracteriza o seu trabalho?
Aveiro vai sempre despertar todo o meu interesse pois é uma cidade de que gosto e sim, ainda tem muito para ser desenhado. Na verdade não desenho a cidade com a frequência que gostava, pois a disponibilidade não é muita, por isso a lista dos locais e elementos a desenhar ainda são bastantes. Os azulejos e as casas do bairro da Beira Mar, são uma parte da cidade que quero muito explorar, dão uma riqueza e identidade muito especial à cidade e tenho bastante interesse em regista-los. Então a ria é infindável, encontram-se paisagens e enquadramentos muito bonitos quando se explora a pé e com tempo.
A arte urbana hoje está em voga. Gostaria de experimentar?
Já tive a oportunidade de colaborar numa intervenção a uma escala pequena, com caixas de eletricidade, gostei como experiência mas não é algo que me alicie muito, prefiro escalas bem mais pequenas como os cadernos. Foi feito durante a iniciativa Vivó Bairro promovida pela associação A Corda e em colaboração com os ASk – Aveiro Sketchers, um coletivo de desenho a que pertenço.
Suzana Nobre é designer Industrial formada no IADE e trabalha como designer na indústria cerâmica. Desenvolve igualmente projetos na área de design gráfico e ilustração, tem participado em várias exposições individuais e coletivas de ilustração, desenho, pintura e diários gráficos. Dedica-se desde 2012, de modo regular ao desenho de observação em diários gráficos, como método de experimentação, desenvolvimento de técnicas e processos de desenho
Mais info aqui http://suzananobredesenhos.blogspot.pt/