Assembleia Municipal de Aveiro / “Declaração de voto”: Novos hotéis em lugares emblemáticos / sensíveis da cidade

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Edifício sede da Assembleia Municipal de Aveiro.
Natalim3

“Declaração de voto” – Espaço de opinião semanal das bancadas dos partidos representados na Assembleia Municipal de Aveiro.

  • Comentário / análise sobre desenvolvimentos conhecidos recentemente que dão conta de novos hotéis em Aveiro em lugares emblemáticos / sensíveis da cidade, como a antiga lota e o edifício do Banco de Portugal.

“O turismo é um dos setores estruturantes da economia nacional, afirmando-se também como de capital importância para a Região de Aveiro, a qual se encontra dotada de recursos naturais (mar, praia, campo, montanha) e envolvida pela beleza natural da Ria de Aveiro. Nestas circunstâncias, a abordagem ao setor não pode passar despercebida, exigindo-se por parte das entidades responsáveis locais uma visão estratégica de médio e longo prazo, que permita dotar Aveiro de um conjunto de elementos de referência que potenciem o que de melhor a natureza teve a bondade de nos oferecer.
Urge assim definir qual o posicionamento para o concelho enquanto elemento pertencente a uma região mais vasta, abandonando de vez uma abordagem errante e avulsa, as quais, na soma do conjunto, resultam num rol de medidas que se perdem no tempo e que se transformam numa mão cheia de coisa nenhuma.
Num momento em que se perspetiva um período de retoma pós pandemia, este exercício já deveria estar plasmado num plano de desenvolvimento de turismo para o concelho de Aveiro, o qual deveria obrigatoriamente contemplar todo o território geográfico do concelho, muito para além do que acontece no já hiperconcentrado denominado “centro da cidade”, onde muitas vezes o turismo se resume a uns breves instantes repartidos entre passeios terrestres e fluviais.
Qualquer análise que se possa efetuar relativamente à nova oferta de camas (independentemente do tipo, local e segmento), revela-se um exercício espúrio se o mesmo não for antecedido por uma reflexão sobre um conjunto de questões que se devem colocar e para as quais já devíamos ter resposta: que modelo de turismo queremos para Aveiro e para a sua região; que segmento de turistas pretendemos atrair; como nos articulamos intra e inter concelhos de forma a delinear uma estratégia de captação e retenção de pessoas e receitas; que modelo de turismo sustentável pretendemos implementar no concelho. E poderíamos continuar…
Não devemos ficar à espera que nos venham visitar…devemos trabalhar para fazer acontecer essas visitas mas devemos sobretudo trabalhar para que, aqueles que nos visitam usufruam de experiências inesquecíveis e se constituam fonte potencial de recomendação para a promoção de novos turistas.
Não devemos iludir-nos com os aglomerados que por vezes encontramos numa zona muito restrita do município…é que se nos deslocarmos uns metros para o lado…o turismo acaba já ali.” – Francisco Picado (PS)

“O surgimento de novos investimentos em Aveiro é sempre de louvar, sejam eles na indústria, no comércio ou nos serviços.
Relativamente à hotelaria, Aveiro assistiu nas duas últimas décadas à abertura de alguns novos hotéis bem como à renovação de outros já existentes, melhorando assim a sua oferta nesta área.
No entanto, tendo em consideração os projectos que se sabem estar em desenvolvimento, a oferta existente é ainda claramente insuficiente face às necessidades da procura, daí ser normal continuarem a ser falada a possibilidade de nascerem novos hotéis em diferentes localizações da cidade.
Nos últimos dias foi anunciada a possibilidade de na zona da antiga lota poder vir a ser edificado um hotel e logo algumas vozes se levantaram com avisos sobre o futuro daquela zona e a necessidade de cuidados “especiais” no seu planeamento.
Aqui chegados, convém lembrar que em Novembro de 2019 foi aprovado um novo Plano Director Municipal para o concelho de Aveiro, e que, nesse documento, está vertida a visão estratégica para o futuro do nosso concelho.
Na sua discussão e na apresentação de propostas de alteração ao documento participou quem quis, as entidades competentes que acompanharam a elaboração do documento deram o seu parecer favorável e o documento foi aprovado. Nem todos concordarão com o seu teor, mas o PDM é o documento que legalmente define a tipologia de ocupação do solo e as áreas de construção possíveis.
Recuando no tempo, o instrumento de planeamento anteriormente em vigor para a área da antiga lota era o Plano de Urbanização do Programa Polis, datado de 2005 e que vigorou até Novembro de 2019.
A densidade de construção prevista para aquela zona era enorme e, curiosamente num passado recente, até à aprovação do actual PDM, ninguém se manifestou contra aquele instrumento de planeamento, tal como poucas foram as manifestações contra o estado de abandono a que a Administração do Porto de Aveiro deixou chegar aquela área.
Parece que em Aveiro há quem continue a achar que a publicação de uns pensamentos ou o clamar de uns chavões é a forma correcta de governar o município, mas os Aveirenses já conhecem bem este método: surge normalmente em período pré-eleitoral, ocupa um espaço na imprensa e nas redes sociais, tenta fazer do município um laboratório de qualquer coisa e, passados uns meses, desaparece com a nortada.
Foi assim no passado e não duvido que assim continuará no presente e no futuro, mas Aveiro permite a diversidade de opiniões da mesma maneira que também respeita a democracia e as decisões democráticas daqueles que foram e forem por nós escolhidos para dirigir o nosso município.” – Jorge Greno (CDS)

“Na azáfama de anúncios pré-eleitorais, soubemos da intenção de construir um hotel de cinco estrelas na antiga Lota e outro no antigo Banco de Portugal. Igual azáfama tem percorrido todo o mandato do PSD-CDS vendendo a uns poucos de ricos o património que é de todos.
Não se requalificam casas desocupadas da Câmara nem esta constrói a preços verdadeiramente controlados. Não se faz habitação social nem se apoiam centenas de famílias que aguardam auxílio. Apesar da insistência do Bloco de Esquerda, ainda não foi apresentada e debatida uma Estratégia Local de Habitação com as pessoas que vivem em Aveiro.
Hoje, a cidade está desumanizada, transformada num parque de diversões para turistas e para ricos. Enquanto isto, e por isto, as classes média e baixa são expulsas para a periferia, onde os preços das casas também não param de aumentar.
Os edifícios, equipamentos e terrenos públicos devem ser colocados ao dispor da comunidade, racionalizando o mercado e evitando bolhas de especulação. E a decisão final sobre o seu destino tem que passar a surgir da auscultação colaborativa da população.
No imediato, é preciso pensar nas pessoas que frequentam a zona da antiga Lota, especialmente crianças e jovens, que praticam desportos na estrada e na Ria. Necessitam de condições mínimas de segurança, passeios e iluminação.
No futuro, em todo o concelho, é preciso garantir que não se criam mais zonas exclusivas para ricos, que se mantêm e aumentam as áreas públicas de lazer e de contacto com a natureza. E que o direito humano à habitação é garantido a todas as classes sociais.” – João André Labrincha (BE)

“O direito à habitação está longe de estar garantido em Aveiro e no País. A coligação PSD/CDS tem vindo a incentivar à especulação imobiliária, à mercantilização da habitação e à gentrificação da cidade, empurrando as famílias para o endividamento com a aquisição de casa própria e/ou deslocamento dos estudantes e famílias para territórios vizinhos. Desde a Lei dos Despejos, desprotegeram-se os inquilinos e expulsaram-se muitos residentes dos centros das cidades, transformando o solo urbano em fichas de casino, como os vistos gold, a beneficiação fiscal a residentes estrangeiros e aos fundos imobiliários. O resultado destas políticas é conhecido: ocupação selvagem do grande capital e elites no centro da cidade e o aumento exorbitante das rendas e valor das habitações.
Em intervenções anteriores, o PCP alertou que o projecto da cave de estacionamento do Rossio e as intervenções nos arruamentos vizinhos, embora necessárias, anteviam que a alienação da antiga lota, da antiga fábrica Bóia & Irmão e do antigo Banco de Portugal não viriam responder aos anseios e urgente necessidade de investimento público na habitação e arrendamento a valores controlados, bem como em serviços públicos de qualidade e de proximidade. Os projectos de hotéis de luxo para essas áreas resumem bem a política que este Executivo Municipal deixa de legado em Aveiro, uma cidade cada vez menos virada para os aveirenses, famílias e estudantes. Assim, Aveiro entrará na tendência do aumento do “distanciamento social” entre a minoria que detém a riqueza e o direito a viver na Cidade e a maioria que cada vez mais empobrece a trabalhar e é empurrada para soluções indignas de abrigo, ou para longe do local de trabalho e para territórios onde não há, por exemplo, serviços e transportes públicos.” – David Silva (PCP)

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