Aprendemos todos que atentar contra a educação afeta a geração de hoje e as gerações vindouras; compromete o presente e o futuro. É preciso que esta lição não seja esquecida.
Por Paulo Jorge Ferreira *
Esta cerimónia de abertura do ano letivo é especial para todos nós. Uma excelente razão é a intervenção do Sr. Presidente da Assembleia da República, que nos honra com a sua presença. Falar-nos-á sobre o ensino superior e os seus públicos, um tema muito oportuno. Será certamente um momento inspirador, que aguardamos com expetativa. Em nome de todos, Senhor Prof Doutor Augusto Santos Silva, bem-vindo de volta à UA, e muito obrigado.
Uma segunda razão para o caráter especial desta cerimónia tem a ver com os resultados do CNA. Preenchemos de novo praticamente todas as vagas na 1ª fase, com a mais elevada percentagem de preenchimento fora de Lisboa e Porto. Recebemos mais de 15 000 candidaturas para 2 300 vagas. O número de colocados em primeira opção atingiu um novo máximo, pelo quinto ano consecutivo. E isto num ano em que o número de candidatos ao ensino superior baixou 4% relativamente ao ano anterior e quase 8% em dois anos.
Mas a 1ª fase do CNA não termina com as colocações, termina com as matrículas, já que nem todos os colocados se inscrevem. Quando combinamos a taxa de colocados com a de matriculados, a UA tem a segunda melhor taxa nacional de preenchimento de vagas na 1ª fase. Este ano, recebemos também mais de 1 250 estudantes internacionais de 86 países. Somos uma academia multicultural, que valoriza e respeita a diferença, e onde se cruzam 100 nacionalidades.
Agradeço aos estudantes e às suas famílias a preferência; e a todos os professores, investigadores, e pessoal técnico, administrativo e de gestão pelo empenho. A capacidade crescente de atrairmos estudantes de todas as regiões de Portugal e do mundo decorre do trabalho de todos vós.
Bolsas de mérito
As bolsas de mérito que entregaremos hoje são um terceiro motivo de celebração. São 195 bolsas para os 10% melhores estudantes de cada curso que elegeram a UA como a sua 1ª opção, com pelo menos 17,5, e para todos os que mantiveram ou superaram a sua classificação no último ano. Atribuiremos bolsas a estudantes de 53 cursos, do subsistema politécnico e universitário, de todas as áreas da universidade.
Entregamos ainda o Prémio Aldónio Gomes, um prémio que nasceu para estimular a criação literária e apoiar a revelação de novos autores.
Obrigada aos nossos patrocinadores, que reconhecem a importância de premiar o talento: ALGApIus, Aspöck Portugal, DURIT, Fundação Engenheiro António Pascoal, Grestel, Hidromod, J. Prior, MT Brandão, Palbit, Polivouga, Porcelanas da Costa Verde, Porto de Aveiro, Prirev – Revestimentos Técnicos e Saint-Gobain Portugal.
Uma palavra de apreço também aos diretores dos Agrupamentos de Escolas, quer os aqui representados quer os do resto do país, pelo contributo para a formação dos estudantes.
Residências
Menciono um quarto motivo para celebrarmos. No âmbito do PRR, iniciaremos em breve a construção de cinco blocos residenciais no Crasto e lançaremos o concurso da empreitada para a reabilitação do antigo armazém da Quimigal. O projeto para a construção de residências na Quinta do Comandante, em Oliveira de Azeméis, está também em curso, em consórcio com o município local.
Estas intervenções permitirão à UA, que já tem um dos mais elevados rácios de camas por estudante deslocado em Portugal, aumentar em 41% a sua capacidade. Como atraímos estudantes de cada vez mais longe, este investimento é crucial para a nossa atratividade.
Ainda no âmbito do PRR, está prevista para breve a reabilitação de vários complexos residenciais. As intervenções serão sequenciais, para causarem o menor transtorno possível nas nossas rotinas e a resultarem sempre no maior número possível de camas disponíveis.
Aniversário
Há uma quinta razão para esta cerimónia ser especial: é durante este ano que a UA celebrará o seu quinquagésimo aniversário. É uma oportunidade para celebrar o valor da educação e refletir acerca do seu futuro.
Percebe-se melhor o valor de algo quando nos debatemos com as consequências da sua falta. Portugal, que viveu as consequências da falta de investimento na educação durante décadas de Estado Novo, bem o sabe.
Aprendemos todos que atentar contra a educação afeta a geração de hoje e as gerações vindouras; compromete o presente e o futuro. É preciso que esta lição não seja esquecida.
O Prof. Doutor Augusto Santos Silva afirmou em entrevista recente que do seu grupo de escola primária tinha sido o único a chegar à Universidade. Aconteceu comigo algo de semelhante, e creio que outros nesta sala poderiam dizer o mesmo. Temos trabalhado por um país diferente desse, onde cada criança possa ter a oportunidade que no nosso tempo tão poucas tinham; temos trabalhado por um país onde, daqui por 50 anos, ninguém recorde desta forma o seu percurso escolar.
Estamos a conseguir, mas precisamos de estar atentos. A evolução tecnológica está a criar desigualdades de oportunidade no mercado de trabalho. A novidade e a obsolescência andam depressa e a par. Há profissões que surgem e profissões que desaparecem. Há pessoas sem emprego e empregos sem pessoas.
Estará o ensino superior preparado para estes cenários, e para dar resposta às necessidades de requalificação e formação ao longo da vida que eles suscitam?
Qual a visão da UA para a educação num mundo de desigualdade digital?
Como realinhar as competências que existem no mercado de trabalho com as competências necessárias nas empresas?
Como lidar com os novos públicos que a requalificação está a trazer às instituições de ensino superior, com histórias formativas, expetativas, idades e interesses diferentes?
A UA tem trabalhado em soluções formativas para estes desafios: as microcredenciais e cursos de curta duração, incluindo os que foram concebidos no âmbito do PRR, em parceria com 230 empresas e entidades, num processo de exemplar abertura à sociedade, e ainda outros desenvolvidos no âmbito da Universidade Europeia ECIU.
Temos assumido a liderança nestes novos modelos formativos. A Universidade Europeia ECIU é a primeira entidade a oferecer unidades de aprendizagem baseadas em desafios, certificadas com um selo europeu.
Como tem feito desde a fundação, a UA continua a adaptar-se e a crescer com a mudança, preparando-se para os desafios do futuro, atrevendo-se a mostrar novos caminhos.
O primeiro alinhamento do programa do quinquagésimo aniversário estará disponível na página das comemorações dos 50 anos a partir de hoje.
O lema é “50 anos de ousadia e liberdade”. Faz inteira justiça a uma instituição que se tem distinguido pela capacidade de inovar e pela liberdade de pensamento, criação e expressão.
O programa foi aberto às sugestões de todos e assim permanecerá, até ao final deste mês. Tal como a própria universidade, será uma construção coletiva.
Há dois pré-eventos: “UA memória em curso”, que começa hoje, e o “Encontro 402/73”, a 15 de novembro, inspirado pelo decreto-lei histórico, publicado meses antes da revolução de Abril, que alargou substancialmente a ambição e o âmbito geográfico do ensino superior.
Para concluir, faço votos para que este novo ano letivo seja marcado não apenas pela celebração do passado, mas pela promessa do futuro, com novos horizontes de descoberta e crescimento.
Aos novos estudantes, parabéns por terem chegado a esta nova fase da vossa vida. É um momento de grandes desafios e de grandes oportunidades. Não tenham medo de inovar. Acreditem e sigam em frente. O país precisa do vosso talento. Atrevam-se.
Desejo a toda a comunidade académica um ano académico inspirador, um ano inesquecível.
* Reitor da Universidade de Aveiro. Discurso na sessão solene de abertura do ano académico.
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