O ano de 2022 não deixa saudades. Guerra na Ucrânia, tensão geopolítica, arrefecimento económico mundial, crise inflacionista e energética, travagem na globalização, persistência da pandemia em algumas zonas do globo, multiplicação de eventos extremos associados às alterações climáticas…. Considerando tudo isto, é difícil imaginar que 2023 possa ser pior do que o ano que agora terminou.
Por Alexandre Meireles *
Mas, na verdade, não é expetável que a conjuntura geopolítica e económica mude substancialmente nos próximos tempos. Os fatores de instabilidade e incerteza vão transitar de 2022 para 2023, ainda que a inflação tenda a estabilizar. Não há um fim à vista para o conflito na Ucrânia, os preços ainda vão subir um pouco mais, continuará a haver disrupções nas cadeias globais de abastecimento e manufatura, a desglobalização irá prosseguir assim como a degradação climática… Por tudo isto, é esperado um novo abrandamento do crescimento económico mundial.
O FMI, por exemplo, diz que o crescimento económico mundial será de 2,7% em 2023 – o mais baixo dos últimos 20 anos, se excetuarmos a crise financeira de 2008 e a fase aguda da pandemia. Já a economia da zona euro deverá crescer ainda menos, apenas 0,5%. É quase certo que Alemanha e Itália vão entrar em recessão, cenário que não está inteiramente afastado para Portugal, embora as previsões apontem para um crescimento do PIB nacional entre 0,7% e 1,5%.
Ou seja, mesmo que Portugal escape à recessão, a economia permanecerá estagnada. O país vai, em 2023, continuar a debater-se com preços elevados, dificuldades nas cadeias de abastecimento, retração da procura (interna e externa), taxas de juro em alta e perda do poder de compra. Tudo isto vai repercutir-se negativamente na criação de valor, no investimento, no emprego e na coesão social, numa altura em que Portugal ainda recupera do impacto da pandemia e se prepara para investir o maior volume de fundos europeus de sempre.
Neste cenário, os grandes desafios do tecido empresarial português para 2023 passam, antes de mais, pelo desagravamento da estrutura de custos, em particular os custos com a energia. As empresas vão ter de investir na eficiência energética e também na diversificação das fontes de energia, privilegiando as que são mais baratas e sustentáveis. Importa, pois, acelerar a transição energética, fazendo uso dos programas públicos e fundos europeus consignados para o efeito.
Ao mesmo tempo, as empresas vão ter de enfrentar a falta de pessoal (qualificado e não qualificado) em praticamente todos os setores de atividade. Esta situação obriga, por um lado, à adoção de novas políticas de atração de talento e de integração de imigrantes e, por outro, à reciclagem de profissionais, através de ações de formação.
Por fim, há que encontrar soluções de financiamento alternativas ao crédito bancário, de forma a mitigar a escala das taxas de juro. Isto significa que as empresas devem melhorar a sua capacidade de atrair capital e de obter financiamento através de sistemas de incentivos, designadamente no âmbito do PRR e do Portugal 2030.
Em suma, 2023 será um ano verdadeiramente desafiante para o país e, em concreto, para o seu tecido empresarial. As empresas terão de demonstrar, não apenas resiliência, mas também inteligência para aproveitar quer as oportunidades de financiamento comunitário, quer as oportunidades de negócio num contexto internacional que pode favorecer a nossa indústria, na medida em que são desaconselhadas as cadeias de valor extensas e a deslocalização da produção para o Oriente.
* Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE). Artigo publicado originalmente em Linktoleaders.pt.
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