2023 cheio de turistas, mas falta algo fundamental…

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Turismo Centro de Portugal.

O boom turístico que parece estarmos a (re)viver apanhou muitos players desprevenidos (vejam-se os caos nos aeroportos mundiais no verão passado) e despertou o problema da mão de obra disponível e interessada em trabalhar nas empresas turísticas.

Por Nuno Abranja *

2022 mostrou-nos resultados turísticos semelhantes aos verificados no final da última década, sendo por isso tempo de nos sentirmos orgulhosos pela briosa superação constatada até ao momento.

2022 era o ano de recuperação e 2023 tempo de consolidação. O TP (2022)[1] referia que nos primeiros 5 meses de 2022, com o aumento dos residentes (4,9%) as dormidas aumentaram 355%, apesar de continuarem 9% abaixo do mesmo período de 2019 devido à diminuição de -14,4% dos não residentes.

No final de novembro, o INE (2022)[2] e o Banco de Portugal (2022)[3] estimavam 2.625,3 hóspedes e 6.753,7 dormidas no total do alojamento turístico para outubro, com subidas relativamente ao mesmo mês de 2021 (+23,4% de hóspedes e +23,5% de dormidas).

No fim de 2022, a Volta ao Mundo (2022)[4] publicava que de acordo com o INE o alojamento turístico em novembro era de 1,7 milhões de hóspedes e 4,2 milhões de dormidas (2,9 milhões de não-residentes; 1,3 milhões de residentes), revelando-se o maior crescimento de sempre do mercado não-residente (19%) relativamente a 2019. Indícios de um excelente ano turístico para 2023.

Segundo o WTTC[5], as viagens e o turismo podem contribuir com 8,6 triliões de dólares para a economia global em 2022, apenas 6,4% abaixo dos níveis pré-pandémicos. Apesar destes sinais de melhoria, continuamos a precisar de “olear” a fluidez de processos e procedimentos, a qualidade dos produtos e serviços, a criatividade de ações publicitárias, a captação dos mercados certos, e, acima de tudo, a atração e retenção de capital humano.

O boom turístico que parece estarmos a (re)viver apanhou muitos players desprevenidos (vejam-se os caos nos aeroportos mundiais no verão passado) e despertou o problema da mão de obra disponível e interessada em trabalhar nas empresas turísticas.

Em 2022 a comunicação social publicava inúmeras manchetes sobre a dificuldade em recuperar os ‘ex’ ou novos profissionais para o setor. O Dinheiro Vivo lançava a 29 de janeiro “A outra crise do turismo: a falta de trabalhadores. Há muito que o turismo tem falta de pessoas. (…). Subida de salários é uma resposta, mas não a única.”; o Diário de Notícias destacava a 17 de junho “Turismo algarvio com falta de trabalhadores apesar de 6000 inscritos no IEFP; o Público escrevia a 1 de julho “Andamos a tirar trabalhadores uns aos outros”, “Os empresários do turismo estão com dificuldades em preparar-se para o Verão. A taxa de ocupação está em níveis de que já não havia memória, mas a falta de mão-de-obra também.”.

O contexto da profissão turística está a mudar e as empresas precisam de se reinventar para não perderem as suas equipas. 25% dos mais de 800 mil trabalhadores do turismo abandonaram o setor, desde 2019, pelo que importa refletir sobre as razões e a incapacidade de atrair novos talentos.

Segundo o estudo realizado pelo The Conversation[6] a 350 profissionais da área, as razões mais comuns são: a resignação, a saúde e segurança, salários baixos, nº de horas de trabalho elevado, desgaste emocional, burnout e conflitos com os pares ou os seus superiores por falta de apoio. A verdade é que o turismo já não é o que era. O WTTC5 refere que o setor pode ter criado 58 milhões de empregos só em 2022. Potencialmente, muitos destes ainda não existem e virão substituir funções tradicionais que começam a ficar obsoletas.

Independentemente do que o futuro nos ditará, este é o momento para que as empresas nacionais se esforcem ainda mais para atrair, reter e satisfazer os seus ativos escutando-os, envolvendo-os e recompensando-os.

[1] Disponível em https://travelbi.turismodeportugal.pt/turismo-em-portugal/turismo-em-numeros-maio-2022/. Acedido a 18/07/2022.
[2] Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=540107951&DESTAQUESmodo=2. Acedido a 30/12/2022.
[3] Disponível em https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/noticias/1165/. Acedido a 30/12/2022.
[4] Disponível em https://www.voltaaomundo.pt/2022/12/30/ano-fecha-com-mais-um-recorde-turistico-para-portugal/noticias/876882/?utm_source=push&utm_medium=mas&utm_term=876882. Acedido a 30/12/2022.
[5] Disponível em https://wttc.org/Research/Economic-Impact. Acedido a 18/07/2022.
[6] Disponível em https://theconversation.com/bad-managers-burnout-and-health-fears-why-record-numbers-of-hospitality-workers-are-quitting-the-industry-for-good-174588

*  Diretor do Departamento de Turismo do ISCE – Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo.  Artigo publicado originalmente no site Publituris.

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