2019 será o centenário do nascimento de VIC

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Viaduto de Esgueira, Aveiro.
Viaduto de Esgueira.
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Vasco Branco, conhecido pelo seu artístico nome VIC, nasceu na freguesia de Vera-Cruz, em Aveiro, a 27 de Setembro de 1919.

Maria da Luz Nolasco *

Faria este ano 99 anos de idade, e em 2019 será o centenário do seu nascimento.

No entanto, a cidade de Aveiro tem deste aveirense uma memória viva que se atualiza pela arte da cerâmica, patente no revestimento de murais em espaço urbano: painéis em relevo, vidrados e coloridos com figuras e caricaturas de tipos, de profissões tradicionais e de costumes da ria.

Vamos começar pelo magnífico mural que preenche o viaduto de Esgueira e que faz a ligação da Avenida Lourenço Peixinho pela artéria a nordeste em Sá Barrocas – o longo painel da passagem inferior de Esgueira.

VIC foi exímio na arte da cerâmica e na aplicação da técnica decorativa conhecida pelo trencadís, que em catalão se diz trencat e em português quebrado e/ou fragmentado. Esta técnica foi usada para revestir o paramento do viaduto de Sá para Esgueira e permitiu a VIC criar um padrão de fundo policromo, vibrante no colorido e que refrata a luz incidente sobre os vidrados. Criou um efeito cenográfico estranho e …. óptico. Conseguiu este efeito jogando com azulejos partidos, escolhidos ao acaso em fábricas da região, reaproveitando estes pedaços vidrados e coloridos, fazendo um patchwork cerâmico.

Houve quem dissesse que VIC havia criado um espaço de reflexão lumínea a partir do interior do viaduto capaz de encantar e, até de confundir os transeuntes, os condutores, que o atravessassem. Seriam “bocas” da reação, pela inveja do efeito extraordinário da obra de arte ali instalada. A encomenda foi do município de Aveiro no ano de 1991.

A intercalar o mural integrou vários painéis figurativos em alto e médio relevo, esculpidos e unidos como tacelos de modo a obter um retângulo distinto com representação das profissões artísticas da região de Aveiro e de figuras típicas da Ria. Com algum humor caricaturou personagens locais. Merece, por isso, um olhar curioso e uma atenção maior para o restauro de alguns painéis que estão com fragilidades no suporte. Um alerta.

Este aveirense revelou-se como pintor, escultor, escritor e cineasta, atingindo de tal forma um elevado estatuto em todas estas formas de arte, que veio a ser consagrado e premiado, não só ao nível nacional como internacional.

Escritor, tradutor e cinéfilo

Escreveu contos, novelas e romances, valendo-lhe, em 1946, o Prémio Antero de Quental e o Prémio Associação Portuguesa de Escritores e Secretaria de Estado da Cultura, em 1979. Foi responsável, ainda, pela tradução de várias obras para búlgaro.

Em 1955 fundou com outros aveirenses o Cineclube de Aveiro e passados três anos rodou o seu primeiro filme intitulado “O Bebe e eu” que lhe valeu o primeiro prémio no Concurso Nacional do Clube Português de Cinema de Amadores de Lisboa.

Realizou muitos outros filmes sendo estes projetados e galardoados nos cinco continentes. Dirigiu vários cursos de iniciação de cinematografia.

Juntamente com outros escritores funda o suplemento literário “Companha” e colabora em várias revistas e jornais.

Foi sócio fundador do grupo AveiroArte, tendo sido este grupo, à data da sua fundação em 1973-74, revelador de inovadoras atitudes no campo alargado da arte.

São de VIC diversos painéis que ornamentam a cidade, como o inicialmente referido e o mural que se encontra na Rua de Coimbra, junto à Praça da República. 

A 12 de Maio 1993, Vasco Branco foi galardoado com a Medalha de Prata da Cidade numa homenagem prestada pela Câmara Municipal de Aveiro, demonstrando o apreço e admiração que todos os aveirenses sentem por esta figura local ilustre sobre quem ainda é possível desvendar segredos artísticos, literários e cinematográficos.

* Conservadora de museus.

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